quinta-feira, 16 de julho de 2009

O ENSINO CRIATIVO: UMA FORMA DIVERTIDA DE APRENDER

A proposta deste texto é nos levar a refletir sobre a possibilidade de ensinarmos
de forma mais criativa. Apresenta-se como uma oportunidade para a discussão de alguns
tópicos de real significado para a prática educacional. Como educadores, é importante que
exercitemos nossas habilidades de reflexão; que aprendamos a analisar tanto conteúdos
teóricos como a prática educativa e seus respectivos resultados. Nesta perspectiva, alguns
temas são indispensáveis numa discussão sobre educação e ensino criativo. Dentre eles
podemos citar: o que entendemos por educação, de que forma percebemos a relação
ensino/aprendizagem e como podemos desenvolver metodologias mais criativas e
significativas que mantenham suas metas de eficiência e eficácia. A partir deste esquema,
discutiremos os conteúdos do presente trabalho.
Complicando a situação
Educação apresenta-se como uma palavra genérica que compreende todo e
qualquer procedimento que vise "formar, instruir ou ensinar" um ser. Por ser tão abrangente,
tem sido definida de maneiras diferenciadas, de acordo com os contextos e ideologias onde se
insere como projeto de determinados sujeitos, grupos ou instituições. Um conceito de
educação é sempre resultado de uma ampla reflexão sobre o homem, a sociedade e a natureza
em geral, com a perspectiva e o vislumbre de uma direção, um sentido, uma intenção para a
vida humana, para o desenvolvimento da sociedade, com uma ponta de transcendentalidade
que propõe ir além do concreto e do objetivo. Pensar sobre educação implica sempre em
considerar esses aspectos: o que é da ordem do humano, do social, do transcendental. Paulo
Freire sempre diz que "educar é conscientizar", é lidar com a integralidade do ser humano,
despertando-o para uma elevação espiritual com o objetivo de torná-lo sensível ao mundo e
aos seus semelhantes. Esses propósitos devem compôr o ideário educacional e estar sempre
presentes na mente de todas as pessoas, principalmente professores, que tomaram para si a
tarefa de educar.
Entendendo a educação dessa forma, como um processo de construção do sujeito
humano com propósitos e metas definidas, podemos pensar em algumas perguntas
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interessantes sobre seu panorama atual. São elas: o que vem ocorrendo em nossa escolas,
hoje, atende aos amplos propósitos de um projeto educacional? Estamos alcançando os
objetivos educacionais a que nos propomos? Deve a educação, na sua prática, continuar a ser
pensada apenas por pedagogos ou necessita de uma abordagem multidisciplinar? De que
forma a escola vem interagindo com a sociedade? Tem a escola proporcionado espaço
adequado e favorável ao amplo desenvolvimento das potencialidades de seus alunos?
Uma outra instância a avaliar diz respeito à relação ensino-aprendizagem. Esta
apresenta-se como a interação entre professor e aluno, permeada por propostas metodológicas
que sistematizam um esquema hierárquico no processo de aprender, isto é, pressupõe-se que
alguém que sabe mais, ensina a alguém que sabe menos. Fundamentada em conteúdos
curriculares que almeja transmitir, tem como objetivo primeiro transmitir ao aluno tudo que
se acredita ser indispensável para sua formação integral a partir de métodos e técnicas que
resultem em eficácia e sucesso. É na relação ensino-aprendizagem que os objetivos
educacionais adquirem corporeidade. É desta forma que realizamos aquilo que acreditamos
ser o propósito do projeto educacional. Ensinar e aprender apresentam-se como lados de uma
mesma moeda, como etapas distintas porém complementares, uma contendo a outra, em uma
relação dialética.
Hoje sabemos que no processo de aprender, todas as facetas do sujeito humano
são partícipes, com papéis de igual importância e valor. Para aprender, a criança necessita de
seu aparato cognitivo tanto quanto de suas emoções, afetos, condições sociais e,
especialmente, da qualidade de sua relação com o outro que vai mediar esse processo. Aqui
enfatiza-se o papel desempenhado por aquele que ensina, que tanto pode ser o pai, a mãe ou o
professor, dependendo do contexto. Qualquer pessoa ou instituição pode, também,
desempenhar o papel do outro, inclusive a sociedade com seus costumes e ideologias. Porém,
sendo o professor a figura eleita como mediador oficial do processo ensino-aprendizagem,
cabe-lhe maior responsabilidade no desempenho desta tarefa. Neste ponto, podemos extrair
novas questões para reflexão como: são os professores preparados adequadamente para o
desempenho da tarefa educativa em nossa sociedade? Recebem treinamento com o propósito
de aperfeiçoamento e atualização de forma sistemática? Estão desenvolvendo suas práticas de
forma original e criativa ou continuam atrelados à metodologias tradicionais e "confiáveis"?
Estão se transformando como pessoas a partir da prática educacional, considerando o
processo ensino-aprendizagem como uma via de mão-dupla: quem ensina também aprende e
se transforma? Quem é o professor brasileiro hoje?
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Estudos realizados por investigadores interessados na relação criatividade &
ensino apontam para mudanças que se fazem necessárias no contexto educacional. Neste final
de milênio, caracterizado pela mudança e pela transição, a escola não deve, apenas, transmitir
conteúdos com os olhos voltados para o passado. Não pode se restringir a metodologias que
enfatizem a memorização e aquisição de conhecimentos negligenciando o aspecto formador,
experimentador e criador do saber. Precisa direcionar seu olhar para o futuro, exercitando a
imaginação e a fantasia de seus alunos na tentativa de solucionar problemas ou situações que
novos tempos sempre trazem. Não pode permanecer sentada, confortavelmente, na cadeira do
conformismo e da mediocridade. Deve preocupar-se em transmitir "além" do que está
previsto na grade curricular, mostrando-se atenta a novas propostas metodológicas que
possam alterar sua forma de trabalhar. Quanto ao aluno, não se pode esperar apenas que seja
obediente, calado, quieto, que cumpra todos os seus deveres e não conteste as normas
vigentes. É também importante cultivar o seu espírito inquiridor, ensiná-lo a expressar
adequadamente suas idéias, a aprender com seus erros, a enfrentar desafios, levando-o a
acreditar em si mesmo e a conhecer seus talentos e potencialidades. A escola deve aprender a
lidar com seus alunos e isso inclui aceitar suas diferenças, sejam positivas ou negativas.
Perante esta situação, não é difícil perceber quanto potencial humano é
desperdiçado na escola em consequência de sua estrutura retrógrada e seu projeto educacional
que almeja o futuro e ensina para o passado. Esse descompasso entre objetivos e métodos não
permite que a relação ensino-aprendizagem explore todo o campo em que atua. O aluno não é
atendido em suas demandas, recebendo apenas suporte para o desenvolvimento de parte de
seu potencial cognitivo. Como resultado final, obtemos recursos humanos não explorados e
mal utilizados, manutenção de metodologias ineficazes e não apropriadas aos novos tempos
assim como desinteresse generalizado por parte de alunos e pais. A escola transforma-se em
um lugar chato onde toda e qualquer atividade recebe o rótulo de "obrigatório e pouco
interessante". A prática educacional desvinculada do prazer de aprender torna-se um mal
necessário.
Uma luz no fim do túnel
As mesmas investigações que apontaram para este quadro difícil em que se
encontra a escola neste momento da história também mostram algumas perspectivas de
alterarmos essa situação. Uma possibilidade, entre outras alternativas, surge através da
inserção da criatividade no contexto educacional. Mas como isso se traduziria na prática?
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Como podemos ensinar criativamente? Um bom começo talvez fosse adotar como parte dos
objetivos educacionais o desenvolvimento das habilidades do pensamento criativo. Essa meta
seria alcançada através da modificação e recriação de metodologias e técnicas de ensino que
passariam a incorporar sugestões elaboradas pela psicologia da criatividade. Outro aspecto
fundamental diz respeito aos professores que devem estar preparados para esses novos
tempos, aptos a desenvolverem o talento criativo, reconhecerem e trabalharem de forma
adequada com seus alunos mais habilidosos. O aspecto "capacitação" do professor é bastante
significativo e deve incluir formação e treinamento adequados para que estes possam utilizar
seus próprios recursos criativos, muitas vezes desperdiçados, na relação ensinoaprendizagem.
Inserir conteúdos da psicologia da criatividade no processo ensino-aprendizagem
não é missão impossível, mesmo para aqueles que não conhecem as teorias e pressupostos da
área. Este trabalho oferece-se como recurso a ser utilizado por professores e educadores neste
sentido. Propõe sugestões de atividades onde a criatividade está presente como elemento que
permite uma nova leitura de conteúdos e métodos de ensino já conhecidos assim como a
criação de novos instrumentos de trabalho para o professor. Mas antes de qualquer colocação,
é importante discutirmos um pouco sobre criatividade. O que é criatividade? Afinal, somos
todos criativos ou não? Qual a importância da criatividade para o processo ensinoaprendizagem?
Começa a diversão
Vygotsky pensou em uma forma de compreendermos bem o fenômeno criativo.
Sugeriu que fosse feita uma analogia entre os fenômenos criatividade e eletricidade.
Percebemos que a eletricidade está presente em eventos de diferentes magnitudes. Existe em
grande quantidade nas grandes tempestades, com seus raios e trovões, mas ocorre também na
pequenina lâmpada, quando ligamos o interruptor. A eletricidade é a mesma, o fenômeno o
mesmo, só que expresso com intensidade diferente. A criatividade se processa da mesma
forma. Todos somos portadores dessa energia criativa. Alguns vão apresentá-la de forma
magnânima, gigantesca; outros vão irradiar a mesma energia só que de maneira suave,
discreta. A energia é a mesma, a capacidade também, apenas distribuída de forma
diferenciada. Aqui, entendemos o que é criatividade e como ela acontece nos seres humanos.
Somos todos criativos, somos todos capazes de produzir, construir, inventar novos objetos,
coisas, idéias, ações, revoluções. Temos o poder de produzir elementos e conhecimentos
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novos, nascemos dotados deste potencial e se, ao longo de nossas vidas, "perdemos" essa
capacidade, certamente isso ocorre como consequência de fatores externos e portanto
passíveis de recuperação. É por essa razão que a criatividade apresenta-se como elemento
indispensável na prática educacional. Surge como uma possibilidade de resgatarmos
habilidades humanas preciosas que permitirão ampliarmos nossos conhecimentos como
espécie. Se desenvolvemos nossas habilidades criativas somos capazes de lidar com o futuro
e suas incertezas, tornamo-nos aptos a criar novas formas de adaptação às novas demandas
sociais e naturais, transformamo-nos, todos, em produtores de saber, em solucionadores de
problemas. Por isso a escola não pode dispensar a criatividade como parte componente de seu
currículo. Se pretende formar indivíduos que vão viver no futuro, precisa considerar a
importância de desenvolver as habilidades criativas de seus alunos para que possam adaptarse
e solucionar as questões e problemas trazidos pelo progresso social, científico e
tecnológico.
Agora podemos tratar das sugestões para um ensino criativo. Inúmeras são as
possibilidades de ensinarmos criativamente. Diversos autores trabalharam este tema, entre
eles podemos citar Alencar, deBono e Rodari. Suas contribuições muito representaram para o
desenvolvimento de uma perspectiva de ensino criativo e serão, algumas, sistematizadas
neste texto a título de sugestão para educadores interessados na relação criatividade & ensino:
1. Brinque com idéias e pensamentos. A criatividade se desenvolve a partir do
exercício do pensamento divergente, não formal, não lógico. Utilize muitas
metáforas e analogias quando estiver trabalhando seus conteúdos curriculares. Peça
aos alunos que formem imagens mentais que expressem os conceitos que estão
estudando e depois desenhem essas imagens. Copie a idéia de Vygotsky, que
inventou uma analogia comentada neste texto para explicar o fenômeno criativo, e
crie analogias para explicar seus temas em sala de aula. Os conteúdos de ciências e
estudos sociais podem ser enriquecidos a partir desta proposta;
2. Exercite a imaginação e a fantasia de seus alunos. Utilize exercícios que trabalham
com suposições e hipóteses. Coloque para a turma idéias como:
O que aconteceria se não houvesse mais escolas?
O que aconteceria se todas as pessoas se tornassem surdas?
O que aconteceria se todos os livros desaparecessem da face da terra?
O que aconteceria se as plantas falassem?
O que você mudaria na escola se tivesse uma varinha mágica?
Você pode resolver qualquer problema a partir desta técnica, a partir do exercício da
imaginação de seus alunos.
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3 Explore a matemática brincando com números; explore o português brincando com
palavras. Explore o erro de seus alunos. Se uma criança escreve "muinto", você
pode argumentar que isso é realmente muinnnnnto, demais! e depois ensine a grafia
correta. Se a criança escreve "ora" sem o "h", diga-lhe que essa ora trabalha na
gramática como conjunção e que a hora que trabalha no relógio tem sempre a letra
"h". Crie, invente, transforme sua aula em algo engraçado, divertido, criativo. Não
critique os erros de seus alunos, ao contrário, aproveite-os como matéria prima para
novos conhecimentos;
4 Divirta-se com os conteúdos presentes nos contos de fadas. Em todas as escolas se
contam histórias e fábulas. Explore esse tema sugerindo aos alunos que contem as
histórias ao contrário, ou que inventem uma nova história dizendo o que aconteceu
depois do "felizes para sempre". Outra possibilidade é contar a história do ponto de
vista de outro personagem. Imagine a história do Chapeuzinho Vermelho contada
pelo Lobo? Se quiser, também pode sugerir uma salada de fábulas. Peça aos alunos
que misturem todos os personagens e inventem uma nova história. Esta brincadeira
permite novas possibilidades de se trabalhar conteúdos de português e redação e,
certamente, os alunos vão adorar.
5. Os conteúdos de história e geografia podem ser explorados a partir dos exercícios de
imaginação:
Imagine que você tenha sido um dos mentores da revolução francesa.
Escreva sobre isso.
Imagine que você é o escrivão Pero Vaz de Caminha que veio na frota de
Cabral e descobriu o Brasil. Escreva a carta que vai contar ao rei de Portugal
sobre a nova terra.
Transforme os principais rios brasileiros em personagens e conte a história
hidrográfica do Brasil.
Ensinar criativamente é simples e divertido. Exige que o professor seja também
uma pessoa criativa, que transforme seu material e seus métodos em propostas criativas de
ensino. É uma possibilidade de transformarmos a tarefa de educar em algo prazeroso, capaz
de modificar alunos, professores, pessoas em geral, o mundo em que vivemos. Esta é a
reflexão proposta pela psicologia da criatividade à educação.

Monica Sousa Neves Ferreira

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